19/10/2009

Esquemas: 4-3-3 versus 4-4-2

Miguel:
A táctica do Jesualdo é limitada, sim. Sempre o foi, sempre o será. Mas já nenhum portista espera de um Porto com Jesualdo um Porto sublime. Não tenho dúvidas de que este plantel e este onze, e os recentes, do Porto, se comandados por um treinador mais ambicioso, moderno, capaz e ousado, renderiam muitíssimo mais. O 4-3-3 do Jesualdo é fraquito. Já o 4-3-3 do Mourinho, que nem era/é bem um 4-3-3, era dinâmico. Mas não podemos pedir a todos os Jesualdos que sejam Mourinhos.
Intervenção de outro adepto leonino sobre o 4-3-3:
Não sei se tem assim tantas limitações: uma equipa disposta em 4-3-3 num jogo grande contra um adversário disposto em 4-4-2 losango pode ver a sua tarefa complicada no sentido em que facilmente pode apanhar-se na situação de ter pouca bola (mas aí depende também da dinâmica do 4-3-3), agora, noutras circunstâncias o 4-3-3 pode funcionar, quer para um jogo do tipo rápido (alas) e sem grandes rendilhados e processos mastigados no meio-campo, quer em jogos mais fechados em que exactamente por haver muita gente concentrada no meio e um adversário sem especial vontade de atacar, é necessário abrir o jogo e alargar o terreno. Admitindo que jogas em 4-3-3 com um avançado tipo Jardel - seja numa jogada em velocidade ou em ataque contínuo - "só" precisas de alguém com boa capacidade de cruzamento e um ponta-de-lança de jeito ... pois de resto os espaços estão melhor ocupados (como diz frequentemente o Fernando Santos) e logo, a probabilidade da equipa ganhar com maior frequência as ditas segundas bolas aumenta também, precisamente porque o 4-3-3 dispõe os jogadores em todas as zonas do campo ...

O anterior adepto leonino:
Em certas equipas funciona bem, tal como em certos jogos, como tudo na vida. Daí eu dizer que os sistemas para mim não são tudo. No Sporting por exemplo, o problema é que não tens jogadores para um 4-4-2 com mais rapidez e largura, quanto mais para um 4-3-3 (nem tens ponta-de-lança para isso). O Sporting precisa, isso sim, de um lateral que saiba atacar e um ala, alguém que saiba jogar bem na linha. Tendo isto, o Sporting melhorava e muito.

Miguel:
A minha preferência pelo 4-3-3, que nem é uma preferência muito sólida, prende-se com o gosto que me dá ver jogo pelas alas, com extremos rápidos, tecnicistas, cruzamentos para a área, jogo lateralizado, não tanto por uma questão de eficácia maior ou menor dos sistemas. Nalgumas circunstâncias o 4-4-2 é mais eficaz, sem dúvida, e noutras será o 4-3-3. Depende muito dos jogadores que se tem disponíveis. Olha, o Jesualdo experimentou contra o Besiktas um 4-4-2. É bom, porque significa que está a equacionar variações de jogo.
Um 4-3-3 demasiado estático é "facilmente" anulável por um 4-4-2, à partida, mas há o factor genialidade de um ou outro elemento que pode desiquilibrar a balança. No Porto recente havia o Quaresma que fez dezenas de assistências para golo em lances que tiveram por base as investidas pelas alas. Nesse Porto de que falaste, e no anterior, o do Oliveira, que também tinha o decisivo factor Jardel, nem sequer se punha a hipótese de outro sistema que não fosse um 4-3-3 ou outro que contemplasse um avançado apenas e muito jogo feito pelas alas. Mas como disseste, equipas com Jardel na área não há muitas. E depois há sempre a questão do dinamismo dos sistemas. Mas aplicando esta temática dos sistemas de jogo a este Sporting... não digo que com este plantel o Sporting devesse jogar de início ou maioritariamente/unicamente em 4-3-3 durante os jogos, nada disso, mas noto no plantel uma clara falta de alas, o que desde logo faz com que o Paulo Bento tenha que recorrer a um 4-4-2 losango. Eu - e isto é opinião pessoal, claro - gosto de ver jogo pelas alas, gosto de ver laterais rápidos que se integrem nas acções ofensivas, gosto de triangulações entre o centro (vertical) do terreno e as extremidades. Gosto disso. Mas nem sempre é o mais eficaz, claro. Depende de vários factores. Acho que um sistema optimamente concebido e implantado numa equipa com bons jogadores não garante por si só o êxito. O futebol é um conjunto infindável de factores que se conjugam. As vicissitudes são tantas e tão diversificadas que se torna complicado e normalmente impossível prever o que pode acontecer num pedaço dum jogo, num jogo todo ou num conjunto de jogos.

Para dizer a verdade, os sistemas que mais aprecio são os arrojados. Três defesas. Ou melhor, três defesas que facilmente passam a ser cinco, com os chamados "falsos laterais-esquerdos", papel muito bem desempenhado, em Portugal, pelo Fernando Mendes, pelo Rui Jorge, pelo Sérgio Conceição, para citar alguns. Mas quem fazia isso na perfeição eram os alemães. E gosto desse sistema também pela presença do chamado sweeper, posição que o Beckenbauer "inventou" - em conjunto com o treinador alemão da altura, presumo - e que (no caso do Beckenbauer) se transformou numa posição em que o jogador subia de forma central pelo campo todo, desiquilibrando o jogo a favor da sua equipa. Isto pedia, claro, que houvesse grande qualidade de passe e retenção de bola, e defesas capazes de fazer a dobra para o caso de se a perder.

Houve grandes intérpretes dessa posição, alemães, claro. Primeiro Beckenbauer, na gigante Alemanha do Netzer, Hoeness, Overath, Müller, Maier, etc., e depois Augenthaler, Matthäus, Sammer e tantos outros. Lembras-te do Sammer a jogar a sweeper, a avançar pelo campo todo e a marcar alguns golos no Euro 96?