21/01/2010

História do Futebol - Alguns clubes, alguns nomes e algumas ideias sobre o estado actual do Futebol

Tonel: (Sobre as diferenças entre o espectáculo futebolístico dos anos 90 e o do Século XXI) ... não precisas de ir ao Laudrup e ao Romário, ao Hierro, ao Bebeto, ao Dunga, ao Guardiola, ao Ronald Koeman, ao Rijkaard, ao Van Basten dois anos antes, não precisamos de ir ao início da década de 90, até porque dessas apenas guardo vagas recordações ... já tudo o que é de 1993 para cá posso falar-te como se fosse ontem. Queres comparar por exemplo os teus benficas desta década que está quase a terminar com o benfica de 91, 92 ou 93? Neno, Veloso com a braçadeira, um Mozer, um Ricardo Gomes - internacionais brasileiros e esses sim da mais fina flor - que não se comparam com os centrais brasileiros de hoje. Paneira, Isaías, Schwarz, João Vieira Pinto, César Brito, Rui Águas - que metia os Suazos e os Cardozos num canto em termos de categoria individual, - e tinhas o Rui Costa. Tinha-los todos, numa equipa só. (Dirigido a elementos benfiquistas externos ao blog). E nem foi um ano excepcional esse. Um Sporting que em 1994 tinha uma equipa que nesse ano estava destinada a ganhar tudo. Deixa-se eliminar pelos Austríacos nos quartos de final da Uefa quando tinha dois golos de vantagem na eliminatória - austríacos esses que acabaram por ganhar essa Taça Uefa. Stan Valckx e Naybet como centrais, Figo, Paulo Sousa, Balakov, Capucho, Amunike, Sá Pinto, o eterno e imortal capitão Oceano ... queres comparar isso com o Sporting de hoje? O Porto tinha um Baía, um Fernando Couto, um Jorge Costa, um João Pinto - equivalente ao teu Veloso - um Timofte, um Domingos, um Jaime Magalhães, um Rui Filipe, ou um extraordinário e magnifico - para mim foi dos melhores de sempre - que dava pelo nome de: Kostadinov. Todos esses andavam por cá e, era normal na altura. Nem há comparação com a pobreza que é hoje. E este exercício comparativo podemos fazê-lo ao nível de Clubes europeus ou Selecções que, as conclusões são as mesmas.
Não podem ser outras.

Miguel:
Isso é totalmente verdade e já falámos disso a dois montes de vezes.
O futebol, tal como muitas outras áreas, perdeu a magia que nos faz hoje recordar com saudade coisas dos anos 80 e 90. Contudo, também creio que recordamos mais as eras dos anos 90, no nosso caso, teu e meu, porque foi com esses anos que coincidiu a nossa infância/adolescência, que é o período em que a nossa cabeça e o nosso espírito mais magia consegue retirar das coisas. Mas também duvido muito que o (benfiquista também presente na discussão), por exemplo, veja com a mesma magia as finais de hoje, os filmes de hoje, os melhores jogadores de hoje, os derbys de hoje, etc etc ... com a mesma magia com que nós víamos as do "nosso tempo".
O 5-3 do Sporting ao benfica do ano passado foi um resultado muito próximo do 3-6 mítico, mas alguém consegue comparar? No tal 3-6 houve uma magia que fez com que ainda hoje seja recordado. O 5-3 do ano passado foi um resultado volumoso, cheio de golos, num derby, e nada mais. Os 7-1 do Manuel Fernandes ficaram para sempre, os 7-1 / 5-0 do Bayern - Sporting não ficarão, só ficarão na cabeça dos benfiquistas reles que vão ter sempre essa arma de arremesso à mão para encobrir as próprias vergonhas.
A Taça de Viena em 87 foi mítica.
A Taça UEFA de 2003 e a Liga de 2004 também ficam na história, mas não sei, não é a mesma coisa ...
Ainda ontem se falou na fabulosa equipa do benfica de 1993. É incrível, ou nem por isso, que essa equipa ficou na memória e perdura ainda hoje. Mas é mesmo verdade, era uma equipa brutal, e a do ano seguinte, do título do Toni, ainda era bastante boa. Nunca mais, até hoje, e provavelmente até sempre, o benfica voltou a formar uma equipa que me inspire o mínimo de respeito, sequer.
E concordo que as últimas grandes competições, finais e equipas terminaram aproximadamente no final do século. O Euro 2000 foi brilhante, o Bayern e o Manchester dessa altura eram brilhantes.
Já o Mundial 2002 foi paupérrimo, o Euro 2004 não teve a magia de antes.
O Milan, o Chelsea, o Inter recentes, tudo isso são equipas que jogam muito pouco.
O futebol está fraquinho, é verdade.
Eu extendo a magia da primeira metade dos anos 90 (o benfica do Futre, Rui Costa, Schwarz, João Pinto, Paulo Sousa, William, Rui Águas e o Porto do Kostadinov, Domingos, Fernando Couto, Baía, João Pinto) à segunda metade.
Quem não viu o Jardel marcar a quantidade absurda de golos que marcou, com a facilidade e eficácia bela com que o fazia, os passes do Drulovic de letra (esse sim era eficaz no passe de letra, mais que o Quaresma), o Zahovic, o Artur, o Fernandes Mendes, o Capucho, o Jorge Costa, o Aloísio, o Sérgio Conceição, o Doriva, etc ... quem não viu o Porto ganhar em Milão ou 5-0 no galinheiro, quem não viu o magnífico Euro 96, o bom Mundial 98, a grande Juventus do Ravanelli, Vialli, Del Piero, Di Livio, Deschamps, Peruzzi ou, o excelente Dortmund do Möller, Kohler, Ricken, o grande Bayern (demasiados jogadores para estar a enunciar), o grande Manchester, a final de 99, o demolidor Real Madrid do Raul e companhia, o fabuloso Barcelona do Robson (Baía, Ronaldo, Giovanni, Figo, Luis Enrique, Ferrer, Sergi, Nadal, Guardiola) e posteriormente do Rivaldo e dos holandeses, não pode dizer que viu futebol.

Ainda Miguel:
Vejamos as competições do novo milénio ...
Mundial 2002, já o disse, foi paupérrimo. As melhores equipas ficaram pela fase de grupos, um dos organizadores foi escandalosamente beneficiado para chegar longe, o que alterou desde logo o espírito e a veracidade da competição, a Alemanha bastante fraca chegou à final, o Kahn foi considerado o melhor jogador, o Brasil chegou ao título a praticar um futebol demasiado pragmático, Portugal foi uma vergonha, os jogos foram fraquíssimos, eu lembro-me de os ver.
Euro 2004, tudo bem, foi cá em Portugal, e isso contribuiu para a NOSSA magia. Mas vendo de fora, foi uma competição fora-de-série? A Grécia foi campeã... Uma Grécia com uma estrutura de pedra e uma eficácia defensiva/ofensiva puxada mesmo aos limites do possível. Não vi assim jogos que fiquem na memória por terem sido brilhantes. Emocionantes, sim, mas não mágicos.
Mundial 2006, foi decente, mas não brilhante. Basta dizer que a França, com uma equipa de velhotes, e a Itália a jogar um futebol demasiadamente italiano, foram os finalistas. A Alemanha, curiosamente, que jogou até bastante bem para os seus padrões (efeito Klinsmann), e com uma equipa bastante boa, foi eliminada nos últimos minutos do prolongamento pelos "assassinos" italianos.
Esperaram pelo jogo todo para no fim espetar 2 golos de rajada. Nojento.
O Euro 2008 foi fraquinho, digam o que disserem. Não vi uma única equipa brilhante. A Rússia do Hiddink esteve excelente, a Holanda tinha (e tem) uma equipa brutal sobretudo a nível de ataque, a Espanha misturou grandes jogadores com grande eficácia. Nada de especial.
Na Liga dos Campeões, a final de 2003 decidiu-se nos penalties depois de um jogo ensosso entre italianos. Em 2004, o Porto ganhou com todo o mérito, mas pronto, nada de brilhante. 2005, foi uma final emocionante e atípica, mas não fica na memória como as de dantes. 2006, Barcelona ganhou, era a melhor equipa, nada a dizer, a competição não foi por aí além. 2007, final com o tal Milan ultra-eficaz e ultra-experiente, e Inzaghi mortífero. Nada de brilhante. 2008, nada de brilhante também. Final decidida nos penalties. E a deste ano vai pelo mesmo caminho, nada de brilhante.
O Manuel José, o do Egipto e agora de Angola, uma vez disse que os maiores clubes do mundo, a nível de "mística", eram Benfica, Real Madrid, Barcelona, Ajax, Milan AC, Boca Juniors e Flamengo.
Faltam aqui alguns nomes, como Inter, Juventus, Bayern Munique, Manchester United, Liverpool ou Arsenal, só para citar alguns.

Manuel:
Numa perspectiva puramente histórica, em tamanho bruto, em passado, em conquistas, o Manuel José (não sei se essa é a ordem pela qual ele mencionou esses nomes) aponta de facto os nomes certos.
O Bayern ... o Bayern lá está, sofre do 'mal' de fazer parte de um Campeonato menos atraente e rico do que outros, do que o espanhol ou o inglês ou mesmo o italiano ... mas, em termos puramente de Clubes, o Bayern sem dúvida tem de estar nessa lista, como o Ajax obviamente, que também faz parte de um Campeonato mais 'pobre'.
Clubes mundiais, dificilmente algum superará o Flamengo.
O Flamengo em termos brutos, de massas, de historial, de passado, de conquistas (passadas e presentes) esmaga qualquer Clube europeu.
O Brasil tem 190 milhóes de habitantes, sendo que desses 190 milhões provavelmente 60% deles serão torcedores do Flamengo.
Não tem nada de objectivo este número: podem ser menos, podem ser mais. Mas sejam menos ou sejam mais o Flamengo é de longe o Clube no Mundo com mais adeptos. Soma a isso, o facto de ser um Clube vitorioso.
Na Europa a coisa é mais repartida entre 5 ou 6 emblemas.
Em termos de sucesso:
-Real Madrid.
-Milão.
-Liverpool.
-Bayern Munique.
-Ajax.
-Benfica.
A inclusäo do benfica nesta lista tem de ser feita, obrigatoriamente: 31 campeonatos nacionais e oito finais europeias.
Depois outros Clubes menos vencedores mas igualmente colossos:
-Inter.
-Manchester United.
-Barcelona.
Em termos de sucesso, em número de Taças dos Campeões Europeus, ou finais, por exemplo, são na Europa menos vitoriosos do que os da lista de cima mas, em termos históricos, em nada ficam a dever aos de cima.
Sendo que qualquer um destes 3 por exemplo em termos de massas esmaga um Ajax.
Numa combinação das 2 vertentes eu pessoalmente elaboraria a seguinte lista:
-Manchester United.
-Barcelona.
-Milan.
-Real Madrid (não gosto mas tem de cá estar).
Estes 4. Embora isto seja discutível obviamente. Como aliás as 2 listas de cima o são.
Faltam lá nomes. Escrevo sem perder muito tempo a pensar na questão.
Agora uma coisa é certa:
Nesta lista não está de certeza o Chelsea, que não tem nem passado nem presente.
Tem dinheiro, que é diferente.
Primeiro que o Chelsea estariam o Inter, a Juventus, o Liverpool, o Dortmund, o Nothingam Forrest, o Steaua, ou mesmo o CSKA de Moscovo. Ou o Benfica.
Ou não, e.
Mas claro, a partir do momento em que o Futebol hoje em dia e para as gentes mais novas é uma mistura de Ronaldo com Championship Manager e PES-2009 ... é natural que as concepções sobre o jogo surjam distorcidas e inexactas.

Miguel:
Não me lembro da ordem pela qual apontou estes clubes. De qualquer modo, e despindo totalmente todo o meu anti-benfiquismo para formular isto que vou dizer, eu nunca poria o Benfica numa lista de 7 maiores clubes do mundo. À frente do Benfica, mesmo conjugando todos esses factores que referiste, estão vários emblemas. Até o próprio FCPorto tem mais títulos internacionais que o Benfica, embora menos finais (se não contarmos, claro, com os jogos únicos de decisão de Supertaças Europeias e Taças Intercontinentais). Quanto aos nacionais, para lá caminha, exceptuando a Taça de Portugal, onde o domínio do Benfica a nível de números ainda é realmente profundo.
Sobre isso do Bayern e Ajax, eu estabeleço uma certa comparação entre os dois clubes. Ambos pertencem a campeonatos que não os três que estão acima de todos os outros, dominam internamente (a nível histórico), são hoje em dia conjuntos fortes e respeitados - e penso que o serão eternamente - e até relativamente a conquistas de taças europeias os números são muito semelhantes. Ambos são colossos.
Do Flamengo... Bom, é verdade que esses números são legítimos, mas não sei até que ponto o Flamengo seria grande na Europa e teria o mesmo prestígio de outros nomes europeus, com conquistas internacionais, se existisse de facto na Europa. Como não existe e nem sequer faz sentido comparar a realidade brasileira com a europeia, totalmente distintas que elas são, e como é inútil estar aqui a dizer "se eles jogassem cá, ganhavam X e tinham prestígio Y", não me atrevo a atribuir mais ou menos valor ao Flamengo, ou ao Santos, ou ao Corinthians, ou ao Palmeiras e por aí fora. E o mesmo aplico aos argentinos, River Plate, Boca Juniors, Estudiantes, Independiente, Racing Avellaneda, etc. Até porque a base adepta destes clubes poderia ser totalmente diferente da que existe na realidade dos seus países, e portanto se calhar nem existiriam da forma como existem se fossem europeus. Sinceramente, não gosto de comparar o futebol europeu com o sul-americano, prefiro separar os dois julgamentos. Prefiro cingir-me ao Velho Continente. Mas é sabida, claro, a enormidade dos números do Flamengo e de outros clubes brasileiros no tocante a adeptos, por força dos também superiores números populacionais.
Deixo a minha lista, também, e também sem gastar muito tempo a pensar na questão:
-Real Madrid
-Milan AC
-Liverpool
-Bayern Munique
Mas isto é tão discutível que até fica mal fazer uma lista.
As listas são sempre injustas e imperfeitas, e até inconclusivas.

Miguel, sobre o Chelsea:
Parece haver uma certa onda pró-Chelsea, nos dias que correm... mas vocês sabem que história o Chelsea tem? O Chelsea há coisa de 7 anos nem sequer era levado a sério pelo Manchester United ou pelo Arsenal como concorrente interno. Parece o clube da moda, hoje em dia.
Não estou a criticar, atenção. Cada um identifica-se com o que se identifica, ou gosta do que gosta. Eu gosto de clubes com história. Se não tiver qualquer razão mais forte que me leve a simpatizar ou gostar de um clube ou a simpatizar com ele, o meu critério vai para a história e para os feitos de relevo a que possa ter assistido ou sobre os quais me possa ter informado. Coisas antigas e recentes. E no que diz respeito às coisas antigas, não vejo o nome do Chelsea em lado algum. Ou em muito poucos sítios, pronto.
Mas isto não tem importância, esta discussão de gostos por clubes.
Acima de tudo, o que interessa é ter gosto pela história, mas, mais ainda do que ter gosto dela, é preciso admirá-la e respeitá-la.
Viva a História.
E o Paredão.

Manuel, em resposta a um jovem adepto que é fã do Chelsea:
Mas a História e o tamanho angariam-se assim mesmo.
Não tens de pedir desculpa por gostar do Chelsea.
O Porto até aos anos 70 em Portugal não ganhava nada nem existia em termos de panorama nacional. Sporting, Benfica, Belenenses. Eram estes os grandes, e só estes.
Mas é claro, a História vai-se construindo. E 40 anos depois, em matéria de Futebol, ultrapassaram-nos e estão prestes a ultrapassar o Benfica.
O Chelsea sem dúvida que tem ganho. Ganhou campeonatos com o Mourinho, ganhou Taças com ou sem Mourinho, termina constantemente as épocas nos 3 primeiros lugares em Inglaterra e está constantemente nas meias finais da Liga dos Campeões.
Como é claro, ganha adeptos.
Porque os adeptos ganham-se desta forma: estando lá, nas decisões, nas vitórias, nas montras principais e nos momentos de decisão.
Agora, o que digo, e não é nenhuma verdade absoluta isto, é:
O Chelsea ainda precisará de mais 40 ou 50 anos para - a este ritmo - poder chegar-se perto de um Manchester, um Liverpool, um Barcelona, um Real ou um Bayern ou um Ajax.
E a partir do momento em que o Chelsea não tem ele próprio a noção (adeptos, presidente e plantel) da valia histórica que lhe falta na comparação com outros Clubes europeus então aí ... enfim, é que nem simpatia geram.
Pelo menos a minha, e imagino a de outros adeptos como eu.
O Ballack, que enquanto jogador já foi a pelo menos 2 finais com a Alemanha em provas da Fifa, que já foi a finais de Clubes pelos Clubes porque já passou, se ele - que já mostrou que não tem - tivesse o mínimo de senso das coisas nunca se permitira dizer o que disse sobre o Barcelona.
Isto diz tudo sobre a forma como o Chelsea se encara e encara o futebol europeu. Como se tudo lhes fosse devido, pelo facto de serem os que mais investem e pelo facto de reunirem os melhores defesas, os melhores médios e os melhores avançados.
As coisas não são assim.
Tem de haver noção da realidade histórica dos Clubes. E havendo-a, o Chelsea só tem é que fazer uma vénia ao Barcelona quando o Barcelona visitar Stamford Bridge, porque o Barcelona não existe há 7 meses, nem 7 anos, nem sequer 70. Existe há mais de 100 e, desde que nasceu que assumiu-se logo como um colosso, em Espanha, na Europa e no Mundo.
E fê-lo num tempo em que o dinheiro pouco ou nada valia.
Fê-lo num tempo em que as coisas faziam-se com amor, com paixão, com trabalho.
Por tudo isto, o Chelsea ao pé do Barcelona, é zero.
Daqui a 50 anos podem ser semelhantes, mas hoje, um é tudo ou quase tudo e o outro é meramente um aspirante a ser.
Um projecto, nada mais.

Miguel:
Dizer “o FC Porto nos anos 60 e 70 não ganhava nada” é correcto, mas não seria correcto dizer "até aos anos 70 nunca ganhou nada". O FC Porto é o clube mais antigo de entre os chamados “grandes” de Portugal, o que ganhou a primeira edição da I Liga, e o que ganhou as duas primeiras edições do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. O grande problema do FC Porto, ao nível do seu palmarés, foi o facto de ter passado 19 anos a ver navios, enquanto o Benfica somou uns 14 títulos nesse período.
O FC Porto foi à sua primeira final europeia em 1984. Venceu a primeira em 1987 e levantou mais duas taças internacionais no ano seguinte. O Chelsea sim, é um "novo rico", mas o FC Porto levantou taças nos anos 30, levantou-as nos anos 50, levantou-as nos anos 80 e levanta-as nos anos que correm, e - espero eu - levantá-las-á no futuro.José Maria Pedroto

Manuel:
Ganhava-as com raridade.
O peso do Porto construiu-se de há quase 30 anos para cá, sob a égide de Pinto da Costa.
E só a partir daí.
"Só a partir daí" serve meramente para distinguir os espaços temporais. Até porque como já disse muitas vezes, para mim, as conquistas europeias do Porto têm muito mais grau de dificuldade e valor do que as do benfica, pelos futebóis serem diferentes, por hoje em dia o dinheiro contar muito. E mesmo antes de 2003, mesmo sem a LC do Mourinho eu já considerava o curriculo europeu do Porto superior ao do Benfica, em termos de vitórias. Vitórias.
Agora ainda mais, mesmo em termos absolutos as conquistas europeias do FC Porto são em maior número do que as dos tristes.
Em termos de 'arrasto no tempo' e presenças nas grandes decisões ... oito finais é muita final. E ate aos anos 90 esteve lá quase sempre. São épocas diferentes. Fosse o futebol hoje como era há 50 anos e o Porto porventura iria a 5 meias finais e outras tantas finais por década mas, enfim, hoje em dia é utópico isso, para Clubes de Portugal.

Miguel:
O Porto como força de peso, sim. Como candidato crónico ao título, ao nível do Sporting e Benfica, sim, claramente. Só estava a chamar atenção para o facto de o FC Porto ter o seu nome inscrito em conquistas alcançadas há muito, muito tempo. Perdeu foi uma época dourada para muitos, em que o Benfica brilhou como nunca mais alguma vez brilhará. Antes de o Benfica ter nascido (aparentemente até sobre o ano de fundação mentem), já o FC Porto existia há uma década, e jamais mudou o seu nome.
Mas claro que as conquistas de uns não retiram o mérito e o valor às conquistas dos outros. No entanto, também te chamo a atenção para o facto de o FC Porto já ter efectivamente ultrapassado o Benfica em palmarés futebolístico, isto se contarmos todos os escalões. Aí, já ultrapassou. Na totalidade das contas do futebol, já ultrapassou. Mas não vamos transformar isto numa discussão de grandiosidades Porto - Benfica, nem nada que se pareça.
Viva o futebol, mas é.

Manuel:
O Barcelona terminou a época como campeão europeu.
Na Liga Espanhola venceu 27 dos 37 jogos.
Marcou 104 golos.
Tem um goal-average positivo de 72 golos, o que é verdadeiramente escandaloso, no bom sentido.
O Eto´o, o Henry e o Messi, só estes 3 somados, têm mais golos marcados do que qualquer outra equipa europeia. Qualquer. Do que todas, seja ela qual for.
O Barcelona alinha com 5 ou 6 catalães de início, em cada jogo. Pelo menos:
Valdez. Puyol. Pique. Xavi. Iniesta. E podem acrescentar o Messi, que está em Barcelona desde os 11 anos e o Krkic, que sendo catalão nascido na Catalunha e não sendo titular é frequentemente utilizado.
O treinador do Barcelona é um homem da casa, Pepe Guardiola.
Catalão. Ex-jogador do Barcelona. Adepto do Cube de facto.
Perante isto, o Chelsea é pouco mais do que um Clube pacato.
Desinteressante. Sem sal.
O Futebol não é nenhum CM ... existe uma História, por trás de cada Clube.
Não são somente uma soma de nomes.

Miguel:
Só posso dizer que subscrevo tudo. Um dos nomes que se pode dar àquilo que o Chelsea tem desenrolado desde que chegou lá o magnata russo é concorrência desleal. Praticamente demonstraram interesse em todos os jogadores de topo, novos ou estabelecidos, que foram surgindo nos últimos anos, inflaccionando o preço de muitos e comprando vários, muitas das vezes sem qualquer critério. O Real Madrid tem um procedimento semelhante, mas por outro lado tem um peso histórico que lhe permite fazer isso com alguma propriedade. O Manchester Utd., o Barcelona, o Bayern Munique e outros são clubes endinheirados, mas compram com critério e tentam sempre manter um mínimo de nacionais nas suas fileiras, e não piscam o olho a tudo o que mexe.
Quanto ao Barcelona ser o maior ou melhor, depende do critério. Não concordo que o número total de títulos em todas as modalidades e em todos os escalões seja o único critério. Mas é, sem dúvida alguma, um clube especial, e representa muito mais do que um clube. Representa uma região, e chega inclusivamente a representar o anti-fascismo. É que se (e isto a um nível relativo) se o benfica foi o clube do regime, o Real Madrid foi o clube do regime de Franco de forma assumida, enquanto o Barcelona simbolizou sempre a face contrária a isso. Uma espécie de Mal VS Bem. O Barcelona representa um super-clube, representa uma cidade maravilhosa e uma região, a Catalunha, muito dona de si. A uma escala muito menor, pode-se comparar o simbolismo do FC Porto com o do Barcelona. Mas repito, antes que me ataquem, que isto é evidentemente a uma escala muito menor.
Sobre o que se passou no jogo, todos têm o direito de errar. Fosse o Barcelona na pele do Chelsea e qualquer um dos jogadores teria feito as "tristes figuras" que fizeram o Ballack e outros. O futebol é mesmo assim. Quando somos prejudicados, choramos baba e ranho, quando somos beneficiados assobiamos para o lado. De qualquer forma, o Barcelona, por tudo o que fez esta época, merece estar na final. O Barcelona é sem qualquer sombra de dúvida uma das duas melhores equipas da Europa, por isso é justo que lá esteja. Muito mais do que o Chelsea.
Já agora, subscrevo quando dizes que o Chelsea nunca foi grande. Aliás, eu próprio já o tinha afirmado há tempos. Há clubes ingleses para além dos outros 3 que compõem os actuais "Big Four" com muito mais história, palmarés e tradição que o Chelsea.
Mas o problema do Chelsea é muito mais abrangente. O futebol é, hoje em dia, um negócio, mais do que um desporto ou um espectáculo, e tenho muita pena pelas equipas alemãs, e não é preciso ser doutorado em futebol para se concordar com o Rummenigge quando ele diz que os clubes alemães não têm pura e simplesmente argumentos para lutar de igual para igual com os outros. Tenho saudades de ver equipas alemãs repletas de alemães que suavam o jogo todo e acabavam quase sempre por prevalecer contra onzes teoricamente mais bem apetrechados a nível de valores individuais.

Manuel, ainda sobre o Chelsea:
Ah, eu gosto do Hiddink ... é provavelmente dos 3 melhores do Mundo e o melhor da sua geração mas, ele não tem muita moral para dizer, como disse:
"Já têm a vossa final não inglesa" ... quando no Mundial da Coreia e do Japão ele e a Coreia foram escandalosamente levados ao colo até à meia-final. Mas seja como for é óbvio que ficou 1 penalty por marcar, sem dúvida isso.
O que digo também - e antes disso - é que o Chelsea não devia sequer estar a participar naquilo, uma vez que vive completamente aparte de quase todos os outros Clubes no Mundo.
O Chelsea gasta milhões e milhões todos os anos:
Todos os centrais.
Todos os médios.
Todos os avançados.
Mas tudo tudo tudo.
Tudo naquela equipa à excepção do John Terry é comprado.
Não jogam com 1 único jogador do "Chelsea" ou, pago pelo "Chelsea Football Club".
Já o Barcelona do 11 inicial tem pelo menos 5 jogadores da sua cantera e um número considerável de catalães nesse mesmo 11.
Quero com isto dizer que parece-me a mim que há evidente concorrência desleal por parte do Chelsea relativamente a um Clube como o Barcelona, ou um Manchester, ou um Arsenal.
Já não vou a Clubes italianos e alemães porque nem é preciso.
Mas sobre isso o Rummenigge, Presidente do Bayern, já se lamentou pelo facto de ser altamente improvável a uma equipa alemã estar numa final europeia nos próximos 15 anos, e porquê?
Porque pelas actuais "regras do jogo" há 3 ou 4 Clubes que competem com ferramentas que nenhum outro tem.
O exemplo maior: Chelsea.
Em primeiro, segundo, terceiro e todos os lugares.
Não sei sinceramente como é que pode haver um único adepto de Futebol que não seja "Chelskiano" ... a gostar do Chelsea.
Fosse aquilo um jogo de computador e muito bem: que comprassem 30 estrelas e pagassem milhões de biliões e todos eles. Agora, sendo uma coisa que simplesmente estraga o Futebol, acho estranho torcer-se por um Clube que age assim.
No caso do Chelsea: qualquer "roubo" não chega nem de perto nem de longe ao roubo que eles fazem todos os anos, todos os Verões, época após época.
É por essa razão que detesto Clubes com o Chelsea ou o Real Madrid.
São Clubes "falsos", porque ano após ano praticam concorrência desleal.
O Chelsea não se rege por qualquer regra. É um Clube sem qualquer expressão em Inglaterra ou sequer em Londres e, nos últimos 15 anos aparece na ribalta por via da imensa fortuna de um bilionário russo.
Isto como é óbvio não tem nenhum mal mas, passa a ter quando se transforma em concorrência desleal para todos os outros Clubes, exceptuando possivelmente o Real Madrid que, é capaz dos mesmos ou piores disparates que o Chelsea.
Talvez não em quantidade, mas em "qualidade". Qualidade do disparate.
O Chelsea trata a coisa como um jogo: vê, deseja, escolhe, paga.
Qualquer jogador que queiram servem-se do dinheiro para o adquirir.
Não importa que o Clube em si não tenha os fundos ou as receitas para os ter ou para lhes pagar os ordenados, porque claro está: quem paga é o russo.
É o dinheiro dele que faz aquela casa estar de pé. Não há tecto salarial, têm para cima de uma quinzena de jogadores dos mais bem pagos do Mundo, e todos os anos fazem mais do mesmo.
Com isto desvirtuam as regras do jogo (porque outros Clubes há que não podem recorrer a fortunas bilionárias para se governarem) e pior: desvirtuam a sanidade da competição, inflacionando os já altíssimos salários pagos pela modalidade e inflacionando as transferências época após época.
Chelsea, Real Madrid, Manchester City.
Estes 3 Clubes não deveriam participar nas provas europeias.
Motivo? Concorrência desleal. Pura e simples.
Para salvaguarda da modalidade e da competição.
Mas isto é utópico, infelizmente.
E no fim quem vai pagar é o Futebol.
Um dia ao acordarem perguntarão "onde estão os adeptos?".
E só aí vão perceber os males feitos nos últimos 20 anos, males que têm como expoente máximo as práticas de Clubes como o Chelsea.
Ps: "Roubo", roubo: Ashley Cole.
Ou: Steven Gerrard. Este só não consumado porque o próprio recusou a transferência.
Não gosto do Arsene Wenger mas subscrevo-o quando afirma que clubes com o Chelsea são batoteiros.
E o Arsenal ou o Manchester (embora o Manchester tenha algumas nuances) são um bom exemplo. De como se pode gerir a coisa com seriedade.
O Chelsea não é nada.
O West Ham e o Aston Villa afundam o Chelsea em termos de massa adepta.

Ainda Manuel:
Sobre o magnífico Barcelona de Guardiola, ainda antes deste se sagrar campeão europeu em Roma: ver o Guardiola no banco faz em tudo lembrar o mágico Cruijff.
Expressão corporal, ansiedade mas sem medo, constante gesticular e falar para dentro de campo, serenidade antes e após os jogos. Tudo.
O Barcelona é mágico. E quando liderado por gente mágica, a magia acontece naturalmente.
A senhora "Ironia" é por (bastantes) vezes maldosa.
Após o jogo de Barcelona, jogo do qual alguns jogadores do Barça - mas não o Guardiola - se queixaram do espírito ultra-defensivo empregue pelo Chelsea e, de um penalty que ficou por marcar sobre o Eto´o, o Ballack - que se tem em muito boa conta mas que para mim não é mais nem melhor que 10 outros médios iguais ou superiores a ele - deu uma entrevista de 2 páginas num tom verdadeiramente idiota, arrogante, onde entre outras coisas disse que "o Barcelona não é nada de especial" e "vamos fazê-los pagar pelo choro do primeiro jogo".
Dado isto, foi engraçado vê-lo há pouco nos últimos minutos a correr atrás do árbitro feito amélia a chorar por uma mão dum jogador do Barcelona dentro da área.
Independentemente de ter sido ou não mão, parece afinal que quem ficou no fim a chorar não foi o Barcelona, como previu Ballack.
Já o primeiro penalty, também de uma mão, do Piqué, é de facto penalty.
Mas não importa: Barça é Barça.
E a final será a desejada.
E que final será.

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