22/01/2010

Robert Enke - E uma das miseráveis facetas do mais reles benfiquismo

(A propósito de Robert Enke e na sequência das críticas vindas de um benfiquista (quem mais?) relativamente à "leveza" com que se levou o assunto da sua morte num outro local da internet: será talvez útil deixar aqui a(s) defesa(s) resultante(s) dessa crítica ... porque, não se trata de leveza mas sim de equilíbrio ... a serenidade que não fere o respeito. Vejamos então):
Por um elemento não-pertencente a este blog:
"Pela minha balança de humanidade valho tanto como tu e valho tanto quanto valia o Enke. Não sei se o problema é estarmos a falar do Enke enquanto ex-guarda-redes benfiquista ou ex-qualquer coisa. Mais tarde ou mais cedo aparece sempre algum gnu maquiavélico como eu a fazer piadas sobre mortos. O problema é que eu nem sequer condeno o suicídio, e apostaria o meu nick - caso já não o tivesse feito já, e perdido - que ninguém aqui conhecia o Enke-homem.
Toda a gente conhecia o Enke-personagem e não foi para o homem que lhe criei as piadas. Não poderia porque não conheço. Garanto-te que um minuto depois de escrever piadas sobre o Enke já alguém se tinha rido com as mesmas. Garanto-te isto com a mesma certeza que seria muito positivo para ti e para todos os que condenam as piadas sobre Enkes que soubessem relativizar as suas próprias vidas e as suas próprias mortes.
O respeito e o civismo devem ser praticados diariamente junto de e para com outros seres-humanos enquanto cá andamos. O respeito absurdo por símbolos só nos desumaniza. A verdade só tem um caminho. Eu e tu iremos parar ao mesmo sítio que o Enke foi parar e não, não me refiro à linha de comboio: todos iremos morrer. Eu posso morrer antes de tu leres este post. É uma possibilidade. Como te sentirias tu depois das tuas últimas palavras para o eu-personagem fossem as que foram:
"Tu não vales nada"?
Irias sentir-te bem pior com a minha morte do que com a morte com o Enke. Porque dentro do teu imaginário miserável, eu tenho mais importância para ti do que o Enke. Tu interagiste comigo, tu conheces-me melhor do que conheces o Enke, que, no máximo dos máximos a única coisa que ele fez por ti antes de partir foi dar-te uma camisola suada. O Enke deu-te esta atenção? Deu-te palavras? No máximo deu-te umas alegrias por ter feito com que umas bolas disparadas pelos pés de jogadores de futebol não tocassem as malhas das balizas benfiquistas. O que mais me chateia no meio disto tudo é que tenhas dito "meu deus" sem sequer te dares ao trabalho e ao respeito de usar a letra maiúscula na palavra Deus. Pior do que isto é não parares para pensar porque é que eu não fui imediatamente banido depois de ter escrito as piadas que tanto te importunaram.
Não achas que os administradores me deviam ter banido imediatamente?

Miguel:
Clap clap. Concordo plenamente. Tu, Diogo, serias provavelmente um daqueles que vivendo nos arredores de Hannover (ou não) irias encher o estádio para "homenagear" o
ex-futebolista. A sociedade de hoje é tão ridiculamente baixa e influenciável que se
presta a encher estádios de futebol para "homenagear" uma pessoa unicamente pelo
facto de ter sido famosa, deixando vazios os "estádios" de todas as outras pessoas que nunca chegaram a ser famosas. Não que eu ache que se deva encher esses "estádios". Acho é que não se deve encher os dos famosos por serem isso mesmo: famosos. Foi o mesmo com Fehér, com Puerta e com outros. Evidentemente é de lamentar mas, faça-se a ressalva de que se tratam de seres humanos, cuja actividade profissional (ou outra coisa qualquer) que os tornou famosos junto do grande público não deveria servir como pretexto para que se lhe atribua maior ou menor valor. Para além de que tudo isto pode ser, na realidade, considerado uma falta de respeito para com a pessoa que morreu. Não sei até que ponto a esposa do Enke e os seus familiares e amigos apreciam a ideia de ter 20.000 nerds a fazer vídeos sobre ele, como se de repente se tivesse tornado um santo, no YouTube, ou a de ter 20.000 nerds com o seu nome no MSN e uma mensagem a ele dedicada, como se isso de alguma forma os aproximasse da pessoa ou do tema em causa, para fazerem de algum modo parte desta grande onda de solidariedade que irão esquecer quando aparecer outra coisa nova, ou quando estiverem a dar os Morangos.
É que ainda por cima o Enke não era dado a protagonismos na comunicação social e gostava de se proteger disso. E associar a ele qualquer tipo de benfiquismo nesta hora, isso então seria (ou é) passar mesmo os limites da idiotice e da labreguice.
Enke morreu, deixem-no em paz. Era o que ele queria. Para ele terá sido um alívio. No máximo recordem as grandes defesas que fez ao serviço do vosso clube de merda e de outros, porque é a única coisa que podem recordar. Porque do homem Robert Enke, disso nada sabem, nunca privaram com ele, não existe entre vós e ele qualquer tipo de relação. Isto é que é ser equilibrado e justo.
E como do homem nada posso afirmar excepto o pouco que transparecia ou o que dava para adivinhar nos relvados e nos treinos (excelente profissional e homem sério e trabalhador), recordo a segurança que emprestava a toda a equipa como guarda-redes. Foi uma espécie de surpresa quando Heynckes o foi buscar ao Mönchengladbach mas, rápida e naturalmente impôs-se fazendo esquecer quase totalmente Preud'Homme no benfica. Lembro-me de o desejar para a baliza do Porto em várias alturas. Não se impôs em Barcelona e prosseguiu a sua carreira na Turquia até voltar à Alemanha. Aí, solidificou a sua presença na Mannschaft e vaticinavam-se-lhe vários anos como dono das redes alemãs, como digno sucessor de Köpke, Kahn ou Lehmann.
Era um óptimo guarda-redes, cujo metódico trabalho e vontade de melhorar lhe conferiam o extra que separa os "quase bons" dos "bons".

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